Jogo perfeito: Corinthians trava o Palmeiras e explora as falhas na marcação de Cuca

Corinthians tirou espaço do Palmeiras nas zonas perigosas com linhas próximas e marcação por zona. Mina teve espaço para subir e foi o único jogador alviverde com tempo de pensar e conseguir bons passes

Do ponto de vista estratégico, foi provavelmente a melhor atuação do Corinthians na temporada. O time de Fábio Carille conseguiu executar seu plano de jogo de maneira praticamente perfeita na vitória por 2 a 0 sobre o Palmeiras, quebrando uma invencibilidade de um ano do rival no Allianz Parque.

Sem bola, o líder do Brasileirão jogou recuado, negou espaços nas áreas mais perigosas com a eficácia de sempre e forçou o Palmeiras a incontáveis cruzamentos, a maioria deles inofensivos; com ela, a equipe teve objetividade e inteligência de movimentação, atacando os espaços para explorar os buracos deixados pelo sistema de marcação alviverde.

A diferença entre os dois times sem a bola, aliás, nascida de duas maneiras diferentes de entender o jogo por parte de seus treinadores, deu a tônica da partida. O Corinthians marca por zona: seus jogadores guardam posição, dando combate só quando a bola está em seu setor. Se a bola for para outra parte do campo, a marcação é responsabilidade de outro jogador. A linha defensiva corintiana é rígida, com quatro jogadores posicionados e muito perto um do outro sempre que possível.

Já o Palmeiras marca por encaixes individuais. No início de cada jogada, cada atleta palmeirense “encaixa” com um adversário e tem a responsabilidade de acompanhá-lo até o fim. Não é raro, por exemplo, ver os laterais do Palmeiras dando combate em zonas centrais do gramado, quando os pontas do outro time também centralizam. Os zagueiros saem constantemente da área para grudar no centroavante quando ele recua. Não existe uma linha defensiva, mas perseguições individuais.

Como o Corinthians explorou os encaixes do Palmeiras

O segundo gol do Corinthians: Mina se posiciona mal, Tchê Tchê larga a marcação de Arana e o lateral se infiltra no imenso espaço entre Mina e Dracena
(Reprodução/Premiere)

Falhas na execução desse estilo, que é marca registrada de Cuca, foram cruciais nos dois gols do Corinthians. No lance do pênalti, quando Romero pega a bola na ponta esquerda, Mina segue Jô para fora da área e abre um buraco na defesa do Palmeiras, que nenhum outro jogador ocupa. Arana invade o espaço em velocidade, sem ser acompanhado por Róger Guedes, e Bruno Henrique chega atrasado na tentativa de consertar a situação.

No segundo gol, novamente o posicionamento de Mina é crucial. Róger Guedes, na lateral direita, dá combate a Romero, e o zagueiro colombiano, sem um oponente direto para marcar na jogada, fica posicionado atrás do companheiro, próximo à linha lateral. A distância para Edu Dracena, que está ocupado com Jô centralizado, é imensa. De novo, Arana invade o espaço em velocidade, e desta vez quem larga a marcação é Tchê Tchê – ele até sinaliza para Mina trocar a marcação e perseguir Arana, mas até o colombiano virar o corpo e começar a correr, é tarde demais.

Mesmo tendo menos a bola, o Corinthians pareceu mais perigoso o tempo inteiro. Especialmente no primeiro tempo, Rodriguinho e Jô ficaram mais soltos para puxar contra-ataques e assustaram o Palmeiras em algumas chegadas com triangulações, mas o time esbarrou em erros técnicos – Rodriguinho e Jadson estiveram abaixo nesse aspecto. No segundo tempo, o Corinthians ameaçou menos e se fechou em um bloco ainda mais compacto, com 11 atrás da linha da bola. Jô, o mais avançado, ficava na intermediária defensiva.

Palmeiras não apresenta resposta à marcação corintiana

Do outro lado, o ataque do Palmeiras não conseguiu levar perigo real a Cássio em quase nenhum momento com a bola rolando. As linhas próximas do Corinthians tiraram o espaço que Guerra gosta de ocupar, atrás dos volantes. A linha defensiva jogou muito próxima e estreita, barrando as tentativas individuais de Dudu. Jadson e Romero mostraram que o entrosamento com os laterais Fagner e Arana não é só na parte ofensiva, fechando os lados do campo, dobrando marcação e evitando que o Palmeiras chegasse à linha de fundo.

Com o Corinthians compacto e recuado, sobrou espaço para os volantes palmeirenses, que não souberam aproveitar. Quem mais se destacou nesse espaço foi Mina, que subia com a bola dominada sem ser pressionado e usava seu ótimo passe para encontrar palmeirenses entre as linhas de marcação do Corinthians. Esse tipo de passe incisivo do zagueiro, aliado a uma circulação de bola mais rápida e mais triangulações, foi o que faltou para o Palmeiras tentar desorganizar a marcação corintiana.

O resultado foi um festival de cruzamentos para jogadores baixos na área. No segundo tempo, sem resposta ou alternativa à marcação do Corinthians, Cuca se limitou a introduzir atacantes e colocar Borja e Mina para brigar pelo alto na frente. Em nenhum momento o Palmeiras chegou perto de fazer um gol, exceção feita a uma bola parada em que Cássio apareceu bem.

Por que funcionou em 2016 e não funciona em 2017?

O Palmeiras foi campeão brasileiro no ano passado com esse mesmo sistema de encaixes na marcação sob o comando de Cuca. O time era seguro defensivamente e tomava poucos gols, uma situação que contrasta com o panorama atual, de seguidas falhas de marcação.

A mudança de pessoal – como Gabriel Jesus, que iniciava a pressão na frente com eficiência, e Moisés, fundamental na perseguição no meio-campo – é um fator, mas o principal motivo para a piora parece ser as seguidas interrupções de trabalho, que atrapalham o coletivo e prejudicam a assimilação das ideias. Eduardo Baptista propunha um modelo de jogo totalmente oposto ao de Cuca, mas foi contratado; depois, foi demitido para a volta do mesmo Cuca. Não por acaso, o Corinthians, que definiu seu estilo em janeiro com Carille e trabalhou para aprimorá-lo, é hoje bastante superior na execução de sua proposta.

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Palmeiras 3 x 0 São Paulo: apostas infelizes de Ceni facilitam a estratégia de Baptista

Cueva fez muita falta para o São Paulo, Dudu foi genial ao abrir o placar para o Palmeiras com um golaço do meio-campo e Denis vacilou no lance do terceiro gol. Mas boa parte da derrota tricolor no clássico deste sábado também pode ir para a conta do técnico Rogério Ceni: como ele mesmo admitiu após a partida, seu plano de jogo simplesmente não funcionou. Na verdade, até facilitou a estratégia montada por Eduardo Baptista.

Começando pelos acertos do técnico alviverde: o Palmeiras usou como tática principal uma marcação adiantada, sufocante, fazendo pressão na defesa do São Paulo para evitar que a bola chegasse limpa aos meio-campistas e atacantes. Demorou cerca de 10 minutos para a pressão realmente encaixar, mas depois disso, o time do Morumbi raramente chegou à área de Fernando Prass trocando passes. Mesmo após fazer os gols, o Palmeiras não mudou o modo de marcar – em clara oposição ao São Paulo, que preferiu esperar o rival e pressionar só a partir da intermediária defensiva.

O panorama do jogo: Palmeiras adiantando a marcação e tirando a saída de bola. São Paulo sem ligação entre Pratto e o resto do time

O retorno de Tchê Tchê (que nem parecia estar voltando de lesão, tamanha a intensidade para pressionar, armar e atacar) também ajudou demais o plano de Baptista. O camisa 8 é essencial para que o 4-1-4-1 preferido do treinador funcione, o que mostra também que esquemas táticos, por si só, não são nem bons nem ruins – o que importa é a execução deles pelos jogadores. As boas atuações de Guerra e Thiago Santos também ajudaram a engolir o meio-campo do São Paulo, que praticamente não existiu no jogo.

Já a aposta de Ceni de escalar Thiago Mendes pela direita do setor ofensivo no lugar do lesionado Cueva se mostrou equivocada. A opção até ajudou a segurar a criação do Palmeiras durante a maior parte do primeiro tempo, mas desestruturou ao mesmo tempo o meio-campo e o ataque – obviamente o setor de maior destaque do São Paulo na temporada.

Com Thiago Mendes aberto pela direita, João Schmidt foi deslocado da base do meio-campo para uma função mais adiantada (normalmente executada por Mendes) e Jucilei entrou no time como o volante à frente da zaga. Fazendo seu segundo jogo como titular, Jucilei sofreu demais com a marcação pressão do Palmeiras. Já Schmidt rendeu bem menos do que vinha rendendo como primeiro volante. A tarefa alviverde de atrapalhar a saída de bola tricolor ficou bem mais fácil.

Ao mesmo tempo, no ataque, a movimentação de Thiago Mendes como ponta direita não acrescentou nada ao São Paulo. O setor ofensivo tricolor tem se mostrado tão envolvente e fluido justamente porque as movimentações dos atletas são complementares entre si: Cueva é o armador que sai da ponta para buscar jogo no meio, recua e liga os setores; Luiz Araújo dá sempre a opção da infiltração em velocidade; e Pratto, além de sair da área e ocupar espaços, também serve como pivô.

A movimentação habitual do setor ofensivo do São Paulo: Cueva cai para o meio, Luiz Araújo dá opção de infiltração, Pratto ocupa espaços. Cícero e Thiago Mendes têm chegada a partir do meio. Nada disso aconteceu no clássico

Mas Thiago Mendes teve uma movimentação muito mais restrita do que Cueva teria, raramente saindo da faixa direita do gramado e procurando frequentemente receber lançamentos por trás da defesa quando o jogo pedia que ele recuasse e desse opção aos meio-campistas. Claro que Ceni não esperava que Mendes fizesse o mesmo que Cueva: em uma proposta mais defensiva e reativa do que o seu normal, a aposta era na energia do volante para ligar os setores, mas faltou inteligência na movimentação. Em vez de fluido, o ataque ficou engessado.

Rogério tentou corrigir o problema com a entrada de Wellington Nem (que ainda não pode jogar 90 minutos) no lugar de Jucilei no intervalo, devolvendo João Schmidt e Thiago Mendes para suas posições e funções habituais. Mas Nem não melhorou em nada o jogo ofensivo do São Paulo, porque o elemento de ligação entre meio e ataque continuou faltando – chamou atenção o jogo “preguiçoso” de Cícero, que não fez sua característica movimentação de aparecer de surpresa na área rival.

O treinador tricolor, que mostra um início de carreira bastante interessante, não teve uma noite feliz nas escolhas. Mas tanto São Paulo quanto Palmeiras trilham caminhos promissores. Ceni ainda busca ajustes defensivos (após tantos jogos pressionando os rivais na marcação e sofrendo gols, o time também não soube jogar esperando o Palmeiras). E precisa urgentemente pensar na melhor maneira de como montar o time sem Cueva, que é presença constante em convocações da seleção do Peru.

Já Baptista conseguiu o resultado de que precisava – uma vitória incontestável em um clássico – para aliviar um pouco as desproporcionais cobranças que vem sofrendo nesse início de temporada. Aos poucos, o treinador vai consolidando suas principais opções táticas, conhecendo melhor suas peças e aperfeiçoando a execução de suas ideias no campo. Os trabalhos, que ainda são recém-nascidos, vão evoluindo. Só o que os técnicos de São Paulo e Palmeiras precisam, agora, é de tempo.

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Palmeiras redescobre meio-campo com Robinho e fecha ano espetacular

Nem pareciam os mesmos times do jogo de uma semana atrás na Vila Belmiro, quando por pouco a final da Copa do Brasil já não foi decidida em favor do Santos. No Allianz Parque, o Palmeiras passou de vulnerável na marcação e desconjuntado na frente para um time vibrante, mais coeso e principalmente menos dependente da ligação direta – ainda houve chutões desnecessários, é claro, mas o jogo alviverde foi totalmente diferente no meio-campo. E muito do mérito cai sobre Robinho.

Se o Palmeiras há dois meses é a equipe da bola aérea e dos lampejos individuais, uma atuação em especial fez o jogo coletivo do time subir de patamar em apenas uma semana. Robinho fez o que dele se espera em um time muitas vezes “quebrado” entre defesa e ataque: ligou os setores com movimentação inteligente e passes precisos. O posicionamento aberto à direita foi variado em vários momentos – como no lindo lance do primeiro gol – e o Palmeiras ganhou saída pelo chão, que vinha sendo o principal problema do time.

Robinho ficou menos preso à ponta direita e se movimentou bem pelo campo, dando opção de passe aos volantes e fazendo o Palmeiras depender menos da ligação direta com passes precisos

Robinho ficou menos preso à ponta direita e se movimentou bem pelo campo, dando opção de passe aos volantes e fazendo o Palmeiras depender menos da ligação direta com passes precisos

E o Santos? Impressionante a disparidade nas atuações dentro e fora da Vila Belmiro. Podia ter liquidado a fatura em casa, mas parou na trave, em Prass e em Nilson. No jogo de volta, ao invés de manter a postura agressiva, o time de Dorival Júnior preferiu esperar atrás e apostar em sua melhor arma, o contra-ataque. A estratégia fazia sentido, dada a tendência do Palmeiras em devolver repetidamente a bola ao adversário. Só que o Palmeiras não jogou como esperado.

Com o Santos pressionando menos a saída de bola, os volantes Arouca e Matheus Sales tiveram mais tranquilidade para mostrar que o problema na troca de passes do Palmeiras não era a qualidade dos jogadores, mas o posicionamento coletivo do time, que dava poucas opções com movimentações sem bola. Com Robinho saindo da direita e voltando várias vezes para formar um legítimo trio de meio-campistas, a equipe usou menos a ligação direta, botou mais a bola no chão e conseguiu pressionar a defesa do Santos.

Foi simbólico, também, que o gol tenha saído minutos depois de Marcelo Oliveira trocar o posicionamento de Robinho: o armador passou a atuar centralizado, onde foi capaz de fazer melhor a aproximação com os volantes e Barrios, enquanto Dudu e Rafael Marques abriram como pontas. Se os volantes e Robinho tiveram grandes atuações, o mesmo vale para Barrios, quase perfeito como pivô, mostrando que, com movimentação inteligente ao seu redor, o paraguaio funciona muito bem.

No momento do primeiro gol palmeirense, Robinho havia trocado de posição e estava centralizado. Além de ajudar os volantes no combate por dentro, pôde se aproximar do pivô Barrios e se infiltrar na área

No momento do primeiro gol palmeirense, Robinho havia trocado de posição e estava centralizado. Além de ajudar os volantes no combate por dentro, pôde se aproximar do pivô Barrios e se infiltrar na área

Pouco mais há para se falar sobre a final. Os outros dois gols foram mais típicos dos dois times: a fortíssima bola parada do Palmeiras, depois um vacilo alviverde na marcação e o oportunismo de Ricardo Oliveira. Em vários momentos do segundo tempo, especialmente depois de cansar, o Palmeiras voltou a abusar dos chutões e permitiu que o Santos se instalasse no campo de ataque, mas o time alvinegro teve atuações muito fracas – Gabriel esteve mal, enquanto Lucas Lima se mexeu bem como sempre, mas pouco pegou na bola.

A temporada 2015 do Palmeiras é espetacular. Um time que quase foi rebaixado e contratou mais de 20 jogadores para reformular completamente o elenco já teria tido um ano bom se apresentasse um salto de qualidade e fizesse um Brasileiro tranquilo. Chegar a duas finais, quase brigar por Libertadores até o fim e ainda ser campeão da Copa do Brasil logo no primeiro ano é muito mais do que qualquer expectativa racional.

Já o Santos também terminou o ano muito melhor do que se esperava em janeiro, mas mesmo assim o gosto de fracasso fica por conta das oportunidades perdidas na reta final da temporada. No Brasileiro, o time não conseguiu render fora de casa – fez sua pior campanha como visitante na era dos pontos corridos. Na Copa do Brasil, perdoou a péssima atuação do Palmeiras na partida de ida e não conseguiu encaixar seu plano de jogo na volta. Mais uma mostra de como, no futebol, sucesso e fracasso são definidos em pequenos momentos, em detalhes e muitas vezes por acaso.

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Palmeiras volta a ser péssimo como equipe, mas Santos vacila e não mata final

O Palmeiras pode reclamar do pênalti não marcado em cima de Barrios no início do segundo tempo, mas é fanatismo ou falta de visão limitar os problemas do time à arbitragem. No primeiro jogo da final da Copa do Brasil, assim como já acontece há alguns meses, a atuação coletiva da equipe alviverde foi péssima – a equipe não apresentou praticamente nada com ou sem a bola, limitando-se a tentativas individuais e à entrega de seus jogadores. O Santos venceu o jogo, mas perdeu a chance de ir para o Allianz Parque com três ou quatro gols de vantagem.

Impressiona a falta de alternativas no time treinado por Marcelo Oliveira. O técnico foi bicampeão brasileiro com o Cruzeiro com uma equipe de bons jogadores, mas sem grandes nomes, assim como o Palmeiras atual. Os mineiros eram coesos na marcação e envolventes na frente. Esse repertório não existe no time alviverde de hoje, talvez por falta de tempo ou de convicção do trabalho do treinador.

Marcelo Oliveira teve um ótimo início no Palmeiras ao mudar drasticamente o estilo que o time tinha com Oswaldo, mas não conseguiu montar variações quando o "plano A" parou de funcionar

Marcelo Oliveira teve um ótimo início no Palmeiras ao mudar drasticamente o estilo que o time tinha com Oswaldo, mas não conseguiu montar variações quando o “plano A” parou de funcionar

Quando Marcelo chegou ao Palmeiras em junho, a mudança de estilo em relação a Oswaldo de Oliveira foi brusca: a equipe manteve a marcação adiantada, mas passou a ficar menos tempo com a bola, contra-atacando mais e definindo rápido as jogadas. Menos posse, menos passes, mais gols. Era o que o torcedor queria, e o começo de Marcelo foi excelente.

Cinco meses e duas lesões importantíssimas depois – a dos volantes titulares Gabriel e Arouca, que voltou recentemente -, o jogo do Palmeiras não funciona, e Marcelo não esboça reação ou mudança. O problema principal é óbvio: retenção da bola. O time não consegue sair jogando pelo chão, nem segurar a bola na frente, e passa a maior parte do jogo defendendo – algo que também não consegue fazer bem.

A raiz de todos esses problemas é a falta de jogo coletivo. Quando Vitor Hugo ou Jackson vão iniciar algum ataque palmeirense, os volantes não se aproximam, os meias não recuam, não há movimentação para receber a bola. A alternativa é passe para o lateral, e daí um lançamento longo para frente. Contra o Santos, a fórmula se repetiu à risca. O quarteto ofensivo do Palmeiras quase nunca voltou para buscar jogo e ficou isolado do resto do time.

Palmeiras “quebrado” entre defesa e ataque

Chama atenção o posicionamento aberto à direita de Robinho, um jogador com características perfeitas de organização de jogo. Ele pode fazer essa função jogando pelo lado – Jadson faz exatamente isso no Corinthians, por exemplo -, mas em um time tão carente de um pensador no meio, faz pouco sentido mantê-lo afastado do centro do jogo, até porque ele não oferece muito defensivamente também. Enquanto isso, Dudu, teoricamente o meia central, atua como um segundo atacante, encostado em Barrios e se aproximando pouco dos volantes. O time fica “quebrado”.

Palmeiras ficou rachado entre defesa e ataque, com o quarteto ofensivo pouco voltando para buscar jogo. Santos fez a festa pelas laterais, mas pecou na finalização

Palmeiras ficou rachado entre defesa e ataque, com o quarteto ofensivo pouco voltando para buscar jogo. Santos fez a festa pelas laterais, mas pecou na finalização

Com o Palmeiras tão espaçado com e sem a bola, o Santos dominou amplamente o jogo. A principal arma santista foi, como sempre, a variação precisa e inteligente de posicionamento de Lucas Lima, ainda que o meia não tenha feito seu melhor jogo tecnicamente – o ponto alto foi o lindo passe para Gabriel chutar em cima de Prass. O camisa 20 nunca fica na zona de marcação do volante adversário, caindo pelos lados e vindo de trás, arrastando a marcação rival e abrindo espaços para os companheiros.

Os laterais do Santos foram os principais beneficiários da inteligência de Lucas Lima. Acionados pelo armador, Victor Ferraz e Zeca infernizaram a desorganizada marcação palmeirense se aproveitando de elos fracos dos dois lados do campo. Na esquerda, Zé Roberto optou por “grudar” em seus adversários e segui-los pelo campo, abrindo um rombo na lateral esquerda que era facilmente explorado por Ferraz; na direita, Robinho ficou isolado contra Zeca e mostrou seu baixo poder de marcação, sendo driblado repetidamente.

Nos dois casos, o garoto Matheus Sales (depois Amaral) teve que se desdobrar na cobertura, numa movimentação típica de times dos anos 90. Em vez de compactar o time, marcar e atacar como equipe, o Palmeiras dependeu de momentos individuais para se salvar da goleada e expor em raros momentos a defesa do Santos. O time da Vila perdeu um pênalti e ao menos outras três chances claríssimas de gol. O Palmeiras tem uma semana para se reinventar – o Santos, ainda favorito, só precisa acertar a pontaria.

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Individualista e exposto, Real Madrid é destruído pelo coletivo do Barça

 

A humilhação imposta pelo Barcelona ao Real Madrid no clássico do Santiago Bernabéu foi algo que não víamos desde os primeiros tempos da revolução de Guardiola no comando do time catalão, em 2009 e 2010. Mas esses 4 a 0 do último sábado tiveram muito mais a cara do atual treinador, Luis Enrique, do que a da antiga máquina construída por Pep: um Barcelona que não deixa de praticar futebol coletivo, mas tem como principais forças o talento na frente e a velocidade no contra-ataque, massacrou um Real Madrid que não soube jogar como time.

Se, como diz parte da imprensa espanhola, a escalação do Real realmente foi escolhida contra a vontade de Rafa Benítez, por pressão dos jogadores, então o técnico ganhou fortes argumentos para nunca mais usá-la. O Real Madrid foi uma equipe “quebrada” em campo, dividida entre seis defensores e quatro atacantes, com pouca coisa entre eles. Impossível competir assim com o meio-campo do Barcelona, como José Mourinho aprendeu dolorosamente nos 5 a 0 sofridos em 2010.

Os dois times começaram o clássico marcando a partir da intermediária de defesa, sem pressão na frente, tentando roubar a bola no meio para ter espaço para acelerar no contragolpe – algo que o Barcelona de Guardiola quase nunca fazia. Mas logo ficou evidente a diferença dos dois times sem a bola, e o Barcelona passou a mandar no meio-campo com Busquets, Rakitic, Iniesta e Sergi Roberto (que voltava da ponta direita) levando ampla vantagem contra apenas Kroos e Modric.

O retrato do jogo: quarteto ofensivo do Real "espetado" na frente e ajudando pouco na defesa; Barcelona dominando o meio-campo com superioridade numérica sobre Kroos e Modric

O retrato do jogo: quarteto ofensivo do Real “espetado” na frente e ajudando pouco na defesa; Barcelona dominando o meio-campo com superioridade numérica sobre Kroos e Modric

Enquanto os pontas Sergi e Neymar recompunham a marcação com disciplina (algo que Neymar não costuma fazer na Seleção, aliás), Cristiano Ronaldo, aberto pela esquerda em um 4-2-3-1, simplesmente não voltava quando o time perdia a bola. O resultado era uma cratera na marcação do Real Madrid, forçando Marcelo, Kroos ou Bale a saírem de suas posições para cobrir o setor e abrindo ainda mais espaço para o meio-campo do Barça trabalhar a bola. Assim nasceu o primeiro gol, com Sergi Roberto aproveitando esse espaço, saindo da direita para o meio e deixando Suárez na cara do gol.

É uma daquelas coisas que nunca pensaríamos dizer: Casemiro fez bem mais falta ao Real Madrid do que Messi fez ao Barcelona. O volante brasileiro, que vinha tendo ótimas atuações fixo à frente da zaga do Real, foi sacado do time para a entrada de mais um meia-atacante. Mas o resultado foi que os quatro da frente do Real não participaram do jogo: atuando quase sempre muito avançados, deixaram Kroos e Modric sem opção clara para sair jogando. Modric, principalmente, impressionou pelo número de jogadas erradas, algo totalmente fora de seu padrão.

Sem Casemiro à frente da defesa, Kroos e Modric foram presa fácil para a superioridade numérica do Barça. A situação piorou depois do gol, já que o Barcelona se concentrou cada vez mais em contra-ataques, invariavelmente deixando Suárez e Neymar no 1 contra 1 contra a defesa do Real. Quanto mais o Barcelona contra-atacava, mais Neymar crescia no jogo, e no segundo tempo ele foi um dos melhores em campo.

A partir da metade do primeiro tempo, o Real Madrid resolveu adiantar sua marcação, e o Barcelona mostrou que não tem vergonha de esticar passes e dar chutões quando a zaga é pressionada – outra coisa impensável nos tempos de Guardiola. As melhores chances do time da casa foram com essa pressão na frente, já que, quando o time precisava trabalhar a bola e superar a marcação do Barça, as jogadas quase sempre paravam em Kroos e Modric, já que o quarteto ofensivo pouco buscava jogo e se mantinha “espetado” na frente. Parecia um 4-2-4.

Do outro lado do campo, a impressão era que o Barcelona tinha jogadores a mais, já que sempre alguém recebia livre ou em situação de 1 contra 1. E tinha mesmo – Ronaldo, Benzema, Bale e James ajudaram muito pouco sem bola. Foi uma atuação coletiva sofrível do Real Madrid, e o placar refletiu isso com perfeição. O segundo gol foi sintomático: Modric fica sem opção de passe, é desarmado por Suárez e o Barcelona contra-ataca com Iniesta, que serve Neymar (em posição duvidosa) para a finalização.

O segundo tempo começou com o Real Madrid se lançando à frente e perdendo duas grandes chances de gol. Mas a pressão na frente ficou cada vez mais desconjuntada, com os quatro mais avançados pressionando e o resto do time lá atrás do meio-campo. O Real foi cansando, o Barcelona conseguiu cada vez mais espaço para jogar – o espaço que Iniesta tem no terceiro gol é incrível – e o jogo efetivamente acabou nos 3 a 0. Caso o Real Madrid realmente queira persistir com essa escalação, que individualmente reúne em campo seus melhores jogadores, precisa de uma melhora urgente e radical no sentido coletivo da equipe.

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Brasil segue com os mesmos problemas há quase 10 anos. Culpa é dos técnicos?

Dunga manteve seu retrospecto invicto contra a Argentina, e o Brasil conquistou um resultado bom fora de casa, mas o que o clássico sul-americano de sexta-feira realmente mostrou sobre a Seleção? A resposta: nada de novo. A equipe trocou de treinador e teve várias mudanças pontuais em esquema e escalação ao longo da última década – mas o estilo geral, as principais virtudes e defeitos, são os mesmos desde a primeira passagem de Dunga.

Resumindo, o Brasil desde 2006 é uma ótima seleção quando consegue marcar forte, roubar a bola e sair em contra-ataque. Quando precisa trabalhar a bola de trás, escapar da pressão adversária e criar chances diante de uma defesa postada, o time sofre. Foi assim também com Mano Menezes e Felipão, que eventualmente decidiram aceitar a situação e armar o time para ser feroz na marcação e mortal no contragolpe.

Como começou: Argentina avançando a marcação e forçando o chutão do Brasil. Sem voltar pela esquerda, Neymar deixou Roncaglia livre para atacar

Como começou: Argentina avançando a marcação e forçando o chutão do Brasil. Sem voltar pela esquerda, Neymar deixou Roncaglia livre para atacar

Os culpados são os treinadores? Apenas em parte. É verdade que Dunga e Felipão são pragmáticos que tentam jogar da forma que tira o melhor do time, sem se importar muito com estética, enquanto Mano acabou seguindo o mesmo caminho após um primeiro ano de reconstrução, em que sofreu pesadas críticas. Mas a geração atual de jogadores, apesar de talentosa, não tem as características para um jogo de posse de bola e controle do meio-campo como o torcedor está acostumado.

Isso significa que é impossível jogar melhor? Claro que não. Mas simplesmente trocar o treinador não trará os resultados esperados se o imediatismo de sempre continuar a reinar no futebol brasileiro. Um treinador mais criativo e “idealista” tem como fazer o Brasil mudar de estilo, mas isso exigiria tempo, testes e decisões polêmicas. No meio de uma campanha de classificação para a Copa do Mundo, isso seria aceito? Haveria paciência, tolerância com erros?

Por isso, é errado colocar todas as críticas sobre Dunga. É todo um ambiente que conspira para que os técnicos simplesmente tentem ganhar a qualquer custo. E a maneira mais segura de ganhar imediatamente, com o time atual, é jogando assim.

A marcação melhorou muito quando Douglas Costa passou a jogar pela esquerda e fechar o lado; Neymar, que jogou mal, foi deslocado para o centro do ataque

A marcação melhorou muito quando Douglas Costa passou a jogar pela esquerda e fechar o lado; Neymar, que jogou mal, foi deslocado para o centro do ataque

Os problemas de sempre

O primeiro tempo do Brasil foi um dos piores em tempos recentes da Seleção. A Argentina avançou a marcação em bloco e tirou totalmente a saída de bola brasileira: Miranda, David Luiz e Luiz Gustavo abusaram dos bicões para frente, enquanto Elias e Lucas Lima não se movimentaram com inteligência para dar opções de passe no meio – o meia santista foi uma das frustrações do jogo, mexendo-se bem menos do que o normal e pouco participando da criação.

A única fonte de perigo do ataque brasileiro, o contra-ataque, não conseguiu ser muito acionada. O time de Dunga foi obrigado a manejar a bola por longos períodos tentando quebrar uma Argentina que foi muito organizada defensivamente, com os pontas Di María e Lavezzi voltando para fechar os lados do campo, e disparando nas costas dos laterais brasileiros quando o time recuperava a bola. Resultado: maior posse de bola, mas nenhum chute a gol do Brasil.

Na defesa, outro pesadelo. Além da atuação individual tenebrosa de David Luiz – quase sempre fora de lugar, adiantado em relação aos companheiros de defesa –, o Brasil tem um problema natural quando Neymar joga aberto pela esquerda. O camisa 10 é ótimo para pressionar na frente, mas não recompõe a marcação pelo lado do campo: quando o Brasil não tinha a bola, havia um buraco na esquerda. O lateral Roncaglia passou livre para criar perigo várias vezes. O curioso é que, no Barcelona, Neymar cumpre muito melhor suas obrigações defensivas pelo lado.

Renato Augusto entrou no lugar de Lucas Lima para jogar mais atrás e qualificar a saída de bola. Funcionou, mas a marcação recuada do Brasil travou o jogo

Renato Augusto entrou no lugar de Lucas Lima para jogar mais atrás e qualificar a saída de bola. Funcionou, mas a marcação recuada do Brasil travou o jogo

O segundo tempo começou igualmente ruim, até que Dunga trocou Ricardo Oliveira por Douglas Costa, e o gol saiu logo depois. A bela jogada foi um pouco “achada” – a Argentina ainda era muito superior na partida –, mas a igualdade no placar fez o Brasil melhorar no jogo. Não só pela confiança, mas porque a Argentina passou a dar mais espaços. Além disso, Douglas Costa fechou bem o lado esquerdo, e Roncaglia não foi mais problema.

Dunga tentou melhorar a saída de bola do Brasil trocando Lucas Lima por Renato Augusto, reeditando o desenho tático do Corinthians no meio-campo. A ideia funcionou, mas também porque a Argentina já pressionava bem menos a essa altura do jogo. O Brasil passou a marcar mais recuado e o jogo ficou travado até o fim. O ponto fora de casa foi comemorado, também pela expulsão de David Luiz no fim. No fim das contas, aconteceu o que importa em nossa cultura esportiva: o resultado foi bom.

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Bom com a bola, melhor sem ela: como Lucas Lima desmontou o Corinthians

Lucas Lima não foi encontrado pelos marcadores do Corinthians, graças à sua variação constante e inteligente de posicionamento

Lucas Lima não foi encontrado pelos marcadores do Corinthians, graças à sua variação constante e inteligente de posicionamento

A atuação magistral do recém-convocado Lucas Lima no clássico entre Santos e Corinthians na última quarta-feira, pela Copa do Brasil, foi corretamente elogiada principalmente pelas duas belas assistências que resultaram nos gols da vitória por 2 a 0. Foram, sim, duas lindas jogadas que mostraram do que o armador é capaz quando tem a bola no pé. Mas faltou dar mais valor ao que ele faz quando a bola não está com ele.

A movimentação constante e a inteligência tática de Lucas Lima são fatores que vêm se mostrando sem paralelo no futebol brasileiro – talvez apenas Oscar tenha característica semelhante, mas nos últimos dois anos o meia do Chelsea quase nunca foi escalado em uma função central, ocupada por Neymar na Seleção. Na Vila Belmiro, o meia do Santos desmontou o melhor sistema defensivo do Brasil com uma receita “barcelonística”: nunca pare de se mexer, sempre procure o espaço vazio.

Nenhum “camisa 10” do Brasil joga como Lucas Lima. O santista é um armador moderno e completo: recua para perto dos volantes para iniciar o jogo quando é necessário, cai pelas pontas para fazer tabelas e criar superioridade numérica, acelera pelo centro quando o time rouba a bola e também sabe cadenciar o jogo como um meia clássico. Se a técnica para dar passes curtos e longos é notável, igualmente impressionante é a disposição de nunca ficar parado.

O meio-campo do Corinthians era disposto de uma forma que, na teoria, oferecia um encaixe natural contra o Santos: Bruno Henrique era o volante mais recuado que marcava Lucas Lima, enquanto Elias e Renato Augusto, mais à frente, pegavam Renato e Thiago Maia. Mas Lucas Lima quase nunca estava na zona de marcação de Bruno Henrique. O volante corintiano tinha que se decidir entre seguir o meia santista e deixar um buraco à fente da área ou permitir que ele fizesse situações de 2 contra 1 em outros setores do campo – o que invariavelmente tirava outros corintianos de posição.

Não à toa, Bruno Henrique fez um de seus piores jogos com a camisa do Corinthians. O detalhe é que Lucas Lima não varia seu posicionamento sem critério: ele entende a fase certa do jogo de recuar, de abrir, de cadenciar, de acelerar. Seu estilo é extremamente parecido ao do espanhol David Silva, também um meia canhoto e franzino que é um terror para os marcadores principalmente pela capacidade de aparecer em todos os lados do campo na hora exata.

A presença de Lucas Lima na Seleção Brasileira é uma ótima notícia – não porque seja um craque que vai resolver todos os problemas, como o nosso futebol gosta de tratar as novidades, mas porque oferece um elemento que falta ao meio-campo do time de Dunga. Aos 25 anos, ele ainda tem o que evoluir: às vezes, prende a bola um segundo a mais, ou tenta passes difíceis que não são necessários. Mas o saldo é altamente positivo, e o instinto tático, excelente. Que o técnico brasileiro não cometa o mesmo erro de Felipão com Oscar, prendendo o jogador a uma função com movimentação limitada pelo lado do campo – tirar desses atletas a liberdade de se mexer é tirar o que eles têm de melhor.

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Novidade de Osorio não foi tragédia: São Paulo atacou bem, mas sofreu atrás

Já está claro que Juan Carlos Osorio não está no São Paulo para ir em busca do título brasileiro ganhando jogos por 1 a 0. O colombiano quer o time tricolor jogando bem, impondo seu estilo, praticando um futebol moderno e coletivo. E se é verdade que ainda está longe de atingir o objetivo, já dá sinais de que o caminho que começa a trilhar no Morumbi é muito interessante. A derrota por 3 a 1 para o Atlético-MG foi uma síntese do trabalho até agora: uma ideia ousada, um sistema inusitado, boa produção ofensiva e várias falhas que precisam ser corrigidas.

Ao contrário do que o placar adverso de 3 a 0 do intervalo possa sugerir, o São Paulo não foi nenhuma tragédia no primeiro tempo. Pelo contrário, pressionou o Atlético durante a maior parte: instalou-se no campo do adversário, criou jogadas, avançou os alas, teve oportunidades de gol. A diferença foi no aproveitamento das chances – se o São Paulo desperdiçou várias delas, o Galo, que é um belo time e merece ser o líder do campeonato, foi espetacular na frente de Rogério Ceni.

Osorio mandou a campo um 3-4-3, com Hudson e Michel Bastos fazendo a dupla de volantes, mais Thiago Mendes e Reinaldo como alas. Na frente, Ganso e Pato jogaram nas pontas e caíram constantemente para o centro, em uma movimentação que se mostrou difícil de ser acompanhada e causou certa confusão na marcação do Atlético. As chances apareceram, mas os gols, por falhas de finalização, não. Do outro lado, Lucas Pratto aproveitou erros defensivos e não perdoou.

Esses erros, aliás, foram além das falhas individuais – a mais óbvia, o passe displicente de Hudson que gerou o terceiro gol atleticano. Também houve problemas coletivos graves no 3-4-3, que em nenhum momento encaixou a marcação no Atlético. Em algumas ocasiões, ficaram três zagueiros na área para marcar somente Pratto; como consequência, sobraram adversários livres em outras partes do campo, muito por conta da movimentação inteligente de Giovanni Augusto, que variou muito bem o posicionamento para criar superioridade numérica no meio-campo e nas pontas.

Mas o problema mais recorrente foi a total liberdade dos laterais do Atlético, principalmente Marcos Rocha, que passou desmarcado inúmeras vezes na direita. Normalmente, a jogada começava na esquerda do Atlético com Douglas Santos; Thiago Mendes avançava para combater o lateral, e obrigava Rafael Toloi a sair da área para não deixar Thiago Ribeiro livre; o resto da defesa do São Paulo seguia o movimento de Toloi e deixava o outro lado desguarnecido. Sem ser acompanhado por Pato, Marcos Rocha subia livre e fazia a festa.

No segundo tempo, o treinador corretamente voltou para o 4-2-3-1 usual – a linha de quatro defensores tirou muito do interesse tático do jogo, mas finalmente encaixou a marcação sobre o Atlético. O time mineiro, porém, adotou uma postura bem mais defensiva e passou a levar perigo nos contra-ataques. Marcos Rocha mostrou que poderia continuar subindo sem ser incomodado por Pato, mas passou a guardar mais a posição após alguns minutos. O São Paulo continuou com volume de jogo e perdeu mais alguns gols, mas o Atlético esteve confortável na segunda etapa.

Esse tipo de desequilíbrio causado pelo 3-4-3 é o principal ponto que Osorio precisa trabalhar se quiser manter o esquema, que apresentou também várias coisas positivas: a facilidade para sair jogando pelos lados, a movimentação de Ganso e Pato, e a chegada com vários jogadores na frente, por exemplo. Mesmo com atuações individuais sofríveis como as de Luís Fabiano e Centurión, o São Paulo teve chances até de vencer. Mas Osorio não quer ganhar apresentando falhas; ele quer ganhar controlando o jogo. E mesmo que o caminho esteja correto, isso não deve acontecer no curto prazo.

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Para Ronaldinho valer a pena, Flu terá que adaptar time e sacar destaque

A expectativa da torcida do Fluminense pela estreia de Ronaldinho é grande – assim como foi em todos os clubes pelos quais um dos jogadores mais habilidosos da história do futebol passou. Sempre há a esperança de que o craque dê show, protagonize lances geniais e seja decisivo. Mas para que o Ronaldinho de hoje, com a lentidão de seus 35 anos e o compromisso defensivo inexistente, funcione, é preciso que um time trabalhe para isso ao redor dele. Atualmente, é o time que tem que fazer o camisa 10 funcionar, e não o contrário.

Isso representa um problema para o Flu – que, se não está fazendo uma campanha espetacular no Brasileiro, tem sim uma equipe encaixada, rápida e de bom jogo coletivo sob o comando de Enderson Moreira. O esquema principal usado pelo treinador é um 4-2-3-1 onde a única posição cabível para Ronaldinho é a de meia central, atuando por trás de Fred. Porém, quem vem desempenhando essa função é um jogador de características totalmente diferentes e que tem sido um dos destaques da equipe: Marcos Júnior.

O garoto criado na base do Flu é um atacante de origem, e interpreta a posição à sua maneira: não fica parado entre os volantes, cai muito pelos lados para tabelar com os pontas e laterais, participa bastante do jogo, ajuda na marcação na frente. É veloz, conduz a bola e se projeta na área para finalizar. Não tem um passe diferenciado ou uma visão acima da média como os camisas 10 de antigamente.

É fácil perceber que o parágrafo acima descreve um atleta completamente oposto ao Ronaldinho atual: um jogador de pouca movimentação, sem explosão, que participa pouco, mas ainda com capacidade de fazer dois ou três lances geniais. No Atlético-MG, onde viveu seu melhor momento recente, ele já não era um armador: atuava mais perto de Jô do que do meio-campo, costumava receber a bola já perto da área adversária para definir o lance com um passe ou chute. Não fazia o time jogar – essa função era exercida por Diego Tardelli, a partir da ponta, mas se movimentando pelo campo todo.

A mudança de estilo pode ser boa o Fluminense? Sim, mas o time vai ter que se adaptar a Ronaldinho e aceitar o fato de que perderá alguns pontos fortes para possivelmente ganhar outros.

Um exemplo: Marcos Júnior, muitas vezes, é o principal puxador de contra-ataques do Flu, acelerando pelo centro e usando a qualidade de Fred como pivô e passador para chegar à área adversária. Ronaldinho é incapaz de fazer isso; os pontas, que têm obrigações defensivas e muitas vezes estão bem recuados quando o time recupera a bola, terão que correr por ele. Outro ponto: Fred já ajuda pouco na marcação; com Ronaldinho, serão dois jogadores praticamente nulos na fase defensiva. O Flu terá problemas para pressionar a saída dos adversários.

Outra questão importante é que, nos jogos mais difíceis fora de casa, Enderson tem usado um sistema 4-3-3 que, sem a bola, é um 4-5-1 (ou 4-1-4-1). Nesse esquema, não existe um camisa 10: jogam um volante fixo, dois meio-campistas que marcam e atacam, dois pontas e um centroavante.

A função mais possível para Ronaldinho nesse desenho é a de ponta pela esquerda, invertendo bolas, cruzando na área e caindo pelo centro para finalizar ou dar assistências. Mas se o motivo de usar o esquema é justamente mais segurança defensiva, não há sentido em colocar Ronaldinho em uma função na qual ele teria que marcar o lateral adversário, algo que jamais acontecerá. Manter o 4-2-3-1 ou não escalar o craque?

Encaixar um jogador das características de Ronaldinho em uma equipe é tarefa difícil para qualquer treinador. No Atlético-MG, Cuca montou um time em que a bola praticamente não passava pelo meio-campo, com ligações diretas para Jô e pontas velozes e participativos – a fórmula perfeita para o camisa 10, que também era importante com sua maestria na bola parada. Adaptar o estilo, abrir mão de uma proposta de jogo mais moderna e aceitar que a contribuição de Ronaldinho pode ser crucial, mas não será constante: essas são as chaves para que os talentos do meia sejam mais importantes que seus muitos defeitos no futebol atual.

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Como Marcelo já mudou o Palmeiras: menos bola no pé e mais na rede

É muito difícil, em um prazo curto, detectar alguma mudança de estilo em uma equipe de futebol com a chegada de um novo técnico. Mas quando a mudança é muito brusca, mesmo um único mês de trabalho já pode dar indícios claros de uma nova filosofia de jogo. É o que acontece com o Palmeiras de Marcelo Oliveira: com apenas oito jogos, já é possível dizer que o time está bem diferente do que era com Oswaldo de Oliveira. E não se trata de analisar os (ótimos) resultados, e sim os números e a proposta de jogo da equipe.

A diferença mais nítida entre os dois treinadores é a postura do time em relação à posse de bola. Para Oswaldo, era parte da filosofia que o time controlasse a partida, acuasse o adversário e jogasse no campo de defesa do rival, sempre trocando muitos passes. Para Marcelo, isso não é tão importante: os focos do novo treinador são a disciplina nas linhas de marcação e a rapidez no contra-ataque ao recuperar a bola, definindo logo a jogada.

Os números são claros em relação a isso. Com Oswaldo, as médias por jogo do Palmeiras no Brasileiro eram de 56,6% de posse de bola e 364 passes certos. Com Marcelo, mudou tudo: 46,5% de posse e 280 passes certos. O Palmeiras, agora, tenta menos cruzamentos, e aposta mais em lançamentos longos e diretos. E apesar da queda brusca na posse de bola, o número de desarmes mudou pouco: 25 com Oswaldo, 27 com Marcelo.

O que isso tudo quer dizer? Que o Palmeiras atual joga um pouco mais recuado que antes, e é mais propenso a abrir mão da posse de bola para contra-atacar. Com Oswaldo, o time era paciente e sempre tentava ser protagonista; com Marcelo, ataca de forma dinâmica e não se importa em deixar o rival com a bola. Com Oswaldo, o time marcava mais por pressão e tentava recuperar a posse assim que a perdia; com Marcelo, o foco é se organizar defensivamente, refazer as linhas de marcação – mas, quando possível, também apertar na frente.

Os resultados indicam que o estilo de Marcelo vem funcionando melhor com o grupo de jogadores do Palmeiras. É muito interessante notar que as duas derrotas de Oswaldo no Brasileiro foram nos jogos em que o time mais teve a bola: 66% contra o Goiás e 62% contra o Figueirense. Já as duas vitórias em clássicos de Marcelo foram em dois dos três jogos com menos posse de bola: 36% contra o São Paulo e 43% contra o Santos. O outro jogo foi o empate com o Sport (42%), que só não foi vitória por causa de um gol sofrido no último minuto.

Entretanto, é importante questionar: até que ponto a mudança de proposta de jogo do Palmeiras é responsável pela ótima sequência de vitórias? Afinal, é impossível dizer que o time não estava jogando bem sob o comando de Oswaldo. O Palmeiras dominava jogos, mas não fazia gols. Havia a sensação de que o time finalizava pouco, mas na verdade a média de finalizações caiu com Marcelo Oliveira – e ainda assim o Palmeiras é a segunda equipe que mais chuta a gol no Brasileiro.

Ou seja: grande parte dos ótimos resultados recentes se deve também ao fato subjetivo de que “a bola começou a entrar”. Os jogadores simplesmente pararam de perder tantos gols. Com Oswaldo, o Palmeiras precisava de 14 chutes para fazer um gol; agora, com Marcelo, apenas seis finalizações bastam para a rede balançar. Mas o Palmeiras sempre criou muitas chances: jogos de Oswaldo como o empate contra o Inter e a derrota para o Goiás tiveram o Palmeiras massacrando, pecando nas finalizações e tomando gols em falhas da defesa.

Portanto, as causas da recente ascensão do Palmeiras parecem ser um “meio-termo” entre o impacto que as novas táticas de Marcelo Oliveira causaram na equipe e uma melhora na pontaria (ou na sorte) dos atacantes. A fórmula que funcionou muito bem no Cruzeiro bicampeão brasileiro está aos poucos sendo implantada no time alviverde. Mas é preciso ter paciência – algo que não aconteceu com Oswaldo – no caso de uma possível série ruim, e também consciência de que, independente de título ou G-4, o ano do Palmeiras já é altamente positivo para um time que quase caiu no ano passado.

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