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Bósnia: estreante aventureiro aposta quase tudo no ataque

Estreantes em Copas do Mundo costumam se situar em dois extremos: um time que se fecha, defende e tenta sair da competição sem dar vexame, ou uma equipe que atua sem responsabilidade, buscando o gol e tentando surpreender. A Bósnia de Safet Susic claramente se aproxima mais do segundo exemplo. A filosofia do treinador, considerado o melhor jogador da história do país, é ofensiva por natureza, colocando em campo vários jogadores que gostam mais de atacar do que defender e tentando sempre fazer um gol a mais que o adversário.

A postura de Susic é uma faca de dois gumes: devastadora quando dá certo, mas que pode parecer bastante ingênua contra oponentes de qualidade superior ou que apostam no contra-ataque. O treinador foi bastante criticado nos últimos meses pelo meio-campo pouco combativo, preferindo atletas mais habilidosos e lentos no setor. É pouquíssimo provável que tenhamos uma surpresa do tamanho da Croácia de 1998, mas o estilo técnico da Bósnia deve surpreender os desavisados na Copa.

Sistema aventureiro cria chances por todos os lados

Apesar de finalmente aceitar escalar um volante marcador, Besic, no amistoso recente contra a Costa do Marfim, a formação número 1 da Bósnia é um 4-4-2 em losango bastante ousado. O volante mais recuado, Medunjanin, não é nem de longe um marcador: apesar do bom posicionamento, seus pontos fortes são a visão de jogo e a técnica para distribuir passes com o pé esquerdo. À sua direita, Pjanic, “motorzinho” da Roma, ajuda a fechar o lado e vira um meia ofensivo com a bola; à esquerda, Lulic é o único jogador menos técnico, mas com muita energia e velocidade para marcar e defender pelo setor.

Mais à frente, o armador Misimovic é um camisa 10 à moda antiga, com habilidade para destrancar defesas, mas pouca mobilidade e nenhuma ajuda à defesa. O time tem ainda uma dupla de ataque clássica, com Dzeko e Ibisevic, dois centroavantes que se movimentam bem, são ótimos finalizadores de área e formam parceria afinada. O time cria chances com passes em profundidade, cruzamentos de Lulic ou do lateral Mujdza, tabelas pelo centro ou bolas longas para os centroavantes – a variedade de jogadas da Bósnia é bonita de se ver.

Defesa sofre com buracos na marcação

A força ofensiva da Bósnia, que marcou três gols por jogo nas Eliminatórias, tem um preço claro: o time é altamente vulnerável a contra-ataques ou a inversões de jogo rápidas, com buracos enormes na marcação. Como o trio de ataque pouco ajuda defensivamente, os três meio-campistas precisam cobrir uma faixa larga de campo, e um dos laterais sempre fica desprotegido. A situação é especialmente problemática na direita, já que Mujdza é um lateral bem ofensivo, e Pjanic muitas vezes fica centralizado e fora de posição para cobri-lo.

Outro defeito é no centro do campo, onde o ótimo Medunjanin não é um volante de marcação: com pouca mobilidade e eventuais avanços ao ataque, deixa espaço atrás de si e é presa fácil para meias habilidosos. O lado esquerdo é o setor mais resistente, já que Kolasinac é um lateral sólido na defesa e tem sempre um jogador disciplinado à frente de si, que ajuda na marcação, como Lulic, Visca ou Salihovic. Ainda assim, os zagueiros costumam ficar bastante expostos, e o time vai depender muito da atuação de Begovic, que pode ser um dos melhores goleiros da Copa.

Alternativa tática contra times mais fortes

O idealismo de Susic não foi tão grande a ponto de o treinador não ensaiar uma alternativa mais sólida defensivamente para jogos mais fortes, e é justamente essa variação que deve ser usada na estreia contra a Argentina. Ibisevic sai do time, deixando apenas Dzeko à frente, para a entrada de Besic, um típico volante marcador, de raça e carrinhos. O time naturalmente ganha poder de marcação e não fica tão dependente de um erro adversário para recuperar a bola, mas o ataque fica bem mais previsível.

Outra possibilidade é sacar Misimovic, que é praticamente nulo defensivamente, e colocar Pjanic na posição de armador central, abrindo espaço na direita para a entrada de Hajrovic, um ponta rápido e habilidoso do Galatasaray, que ajuda mais na marcação e seria mais perigoso no contra-ataque. Susic tem nas mãos boas peças para conseguir a classificação em um Grupo F que é um dos mais fracos da Copa, mas precisa demonstrar que, além da filosofia interessante de jogo, tem o pragmatismo para mudar as coisas quando não derem certo.

Jogador-chave: Pjanic. Em um meio-campo que se divide entre jogadores cerebrais ou velocistas, o atleta da Roma é o que mais se aproxima de uma mistura: com grande visão de jogo e qualidade de passe, também é dinâmico e sabe correr com a bola. Atua na maioria das vezes deslocado para a direita para acomodar Misimovic, mas costuma cair pelo meio e se tornar um armador extra. Sua melhor posição, porém, é centralizado, e talvez essa seja a resposta para sanar os problemas defensivos da Bósnia sem tirar potencial ofensivo.

Palpite: cai na primeira fase

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Argentina: estrelas disfarçam dilema ofensivo e zaga instável

No papel, faz todo o sentido apontar a Argentina como uma das favoritas ao título da Copa do Mundo de 2014. O setor ofensivo tem nomes de assustar qualquer rival: além do astro Lionel Messi, há jogadores como Di María, Higuaín, Agüero e Lavezzi; o técnico Alejandro Sabella se deu até o luxo de deixar de fora um talento como Tevez. Na prática, porém, há muitos motivos para preocupação – além de quebrar a cabeça para fazer todas essas estrelas funcionarem bem juntas, a seleção tem uma queda séria de qualidade do meio-campo para trás.

Não é de hoje que existe a discussão sobre Messi não render seu máximo pela seleção argentina. Também não é novo o problema de uma defesa instável e propensa a erros básicos. O que mais preocupa é que Sabella, um técnico inteligente e competente, não conseguiu encontrar soluções definitivas para nenhum dos problemas, apesar de ter melhorado a solução em relação aos comandos caóticos de Maradona e Batista. O talento individual ainda pode levar a Argentina longe, mas os problemas coletivos já custaram um preço alto na Copa de 2010 e na Copa América de 2011.

Messi e talentos do ataque criam dilema na frente…

Messi já jogou de todos os jeitos possíveis na seleção: ponta direita, segundo atacante, meia armador, centroavante… E ainda não se sabe qual é sua melhor posição. Escalá-lo na mesma função de centroavante que ele exerce no Barcelona já se mostrou inútil – o resto do time não tem condições de reproduzir as movimentações do time catalão com a mesma eficiência, e isso tira Agüero e Higuaín de onde são mais perigosos. Em outras funções, o excesso de atacantes de alto nível acaba forçando Messi para trás – ele atua longe do gol e precisa superar um grande número de adversários até ter chance de finalizar.

A solução encontrada por Sabella foi escalar Messi em uma posição mais à direita do ataque, mas com liberdade total para se movimentar – algo parecido com seu início de carreira no Barcelona. Neste desenho, Higuaín é o centroavante e cai naturalmente para o lado direito, enquanto Agüero fica na esquerda, buscando também o corte para o meio. O problema é que isso invariavelmente resulta em um ataque embolado no centro. Agüero e Higuaín não oferecem naturalmente a movimentação de que Messi precisa para ser efetivo vindo de trás – esperar na ponta e se infiltrar na hora certa em diagonal, de fora para dentro, como fazem Pedro e Alexis Sánchez no Barça, por exemplo.

…mas Di María pode ser a solução

O resultado é que a Argentina sofre contra defesas fechadas e fica dependente de uma faísca individual de seus atacantes. O fato de que os laterais não são grandes armas ofensivas, principalmente na esquerda, piora a situação: os atacantes centralizam e o time fica sem opções para abrir o jogo. A solução para isso pode ser o papel de Di María, que vem de temporada excepcional no Real Madrid, e que durante parte da temporada cumpriu com excelência a mesma função que desempenhará na seleção.

Essa função consiste em ser um terceiro volante pela esquerda, sem a bola, e disparar pela ponta quando o time tiver a posse. Essa movimentação de dentro para fora é muito difícil de ser marcada, criando confusão no sistema defensivo adversário – o volante rival acompanha o jogador ou deixa sua marcação para o lateral? As escapadas de Di María pelo lado prometem ser a melhor válvula de escape para Messi quando o camisa 10 estiver tipicamente cercado de marcadores no centro do campo e não tiver nenhuma opção clara de passe na frente.

Na defesa, falta qualidade e proteção

A Argentina tem dois problemas principais na defesa: primeiro, a pura falta de talento individual dos jogadores, e segundo, a ausência de proteção efetiva para uma linha de zaga bastante instável. O primeiro problema é difícil de remediar: entre os prováveis titulares, Zabaleta e Garay são defensores competentes, enquanto Fernández é limitado e Rojo é incrivelmente fraco como lateral esquerdo para ser o dono da posição em um time considerado favorito ao título. Opções como Campagnaro e Demichelis também não animam.

O segundo problema tem mais chance de ser resolvido, mas isso significaria sacrificar algum dos atacantes. No sistema atual, Mascherano tem uma tarefa árdua no meio-campo, cobrindo muito espaço para evitar que os ataques cheguem facilmente à retaguarda argentina; Gago e Di María devem ser os outros meio-campistas com tarefas defensivas, enquanto o trio de ataque quase nunca ajuda na marcação. Avaliando friamente os dois problemas da seleção, sacar Agüero ou Higuaín e colocar um meia direita disciplinado, como Maxi Rodríguez, por exemplo, poderia funcionar melhor – porém, Sabella confia em momentos mágicos de seus homens de frente para compensar as deficiências coletivas.

Jogador-chave: Di María. Obviamente o talento de Messi é superior a qualquer outro jogador no planeta, mas para que o craque do Barcelona possa render seu máximo, a função de Di María será essencial. Enérgico e disciplinado, o meia do Real Madrid vai ajudar os volantes na marcação pelo centro e disparar pela esquerda para dar opções de ataque, buscando compensar a falta de talento do lateral Rojo no apoio. Em um time que muitas vezes parece “quebrado” entre defensores e atacantes, o fôlego e os dribles de Di María serão fundamentais para ligar os setores e dar opções a um Messi que provavelmente vai atuar bem mais longe do gol do que gostaria.

Palpite: quartas de final (perde de Portugal)

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Honduras: sem surpresas para superar a “barreira Concacaf”

Pela primeira vez em sua história, a seleção de Honduras conseguiu se classificar para duas Copas do Mundo consecutivas. A geração é muito talentosa para os padrões do país, e conseguiu uma campanha confortável nas Eliminatórias da Concacaf. Para disputar o Mundial, porém, o que deu certo a nível regional certamente não renderá com a mesma eficiência, e o técnico Luis Fernando Suárez não parece ter nenhuma surpresa na manga para superar essa “barreira” de qualidade e competir no nível mais alto do futebol.

Em resumo, Honduras é um time que faz bem as coisas básicas: a combinação de disciplina tática, velocidade e qualidade de alguns jogadores pelo lado esquerdo foi suficiente para garantir uma vaga no fraco regional da Concacaf, mas tende a ser insuficiente contra times e atletas de um quilate superior. A derrota por 5 a 0 para o Brasil, em amistoso do ano passado, foi reveladora: apesar de possuir um time tecnicamente razoável e disciplinado, Honduras não tem qualidade suficiente para competir abertamente com os grandes, sem nenhum artifício tático.

Esquema básico concentra força ofensiva na esquerda

Em relação ao esquema, Honduras aposta em um 4-4-2 dos mais básicos, com combinações entre laterais e meias pelas pontas, dois volantes marcadores e dois atacantes oportunistas que esperam lançamentos ou cruzamentos para finalizar. Como os jogadores de mais qualidade estão concentrados do lado esquerdo, é por esse setor que os hondurenhos mais levam perigo.

O zagueiro canhoto Figueroa tem boa saída de bola e consegue fazer lançamentos precisos pelo flanco; o lateral esquerdo Izaguirre é muito bom tecnicamente e tem fôlego para atacar o tempo todo; e o ponta esquerda Espinoza é muito rápido e disciplinado taticamente, muitas vezes trocando de posição com Izaguirre em meio às jogadas. O time se concentra em combinações por esse lado; já pela direita, o jogo é mais direto, com a velocidade de jogadores como Najar, García, Peralta e Beckeles – dois deles serão titulares.

Dupla de centroavantes à moda antiga

Honduras joga com dois atacantes centrais que pouco participam da armação de jogadas e ficam bem avançados, esperando serem servidos. O artilheiro Bengtson é a principal ameaça, atuando mais à direita e esperando cruzamentos na segunda trave vindo da ponta esquerda, ou recebendo enfiadas de bola para usar a velocidade. Seu parceiro costuma ser Costly, um centroavante mais pesado e eficiente de costas para o gol.

Os dois atacantes têm como papel principal, além de providenciar as finalizações, servir como parede para os lançamentos longos da defesa, principalmente de Figueroa, já que a bola praticamente não passa pelo meio-campo na armação de jogadas. As opções de banco, Jerry Palacios e Rony Martínez, têm estilos parecidos com os dos titulares e não oferecem grande variedade – em outras palavras, Honduras não tem um plano B.

Meio-campo marcador não fecha espaços suficientes

Os dois volantes titulares devem ser Wilson Palacios e Jorge Claros, dois jogadores defensivos, que pouco acrescentam aos ataques da equipe e têm como principal missão proteger a zaga. Os dois são bons marcadores, mas o sistema defensivo de Honduras como um todo não é nada demais: as duas linhas de quatro não são particularmente compactas e oferecem espaço para atacantes ou meias inteligentes.

O fato de o time atuar com uma dupla de ataque não é tão prejudicial defensivamente, já que Bengtson e Costly recuam sem a bola e buscam fechar as opções de passe dos volantes adversários – mas de um modo bem menos compacto e urgente do que o Atlético de Madrid, por exemplo, que joga no mesmo esquema. Sem uma marcação muito efetiva e limitada nas ações ofensivas, a seleção hondurenha não parece ter muito a oferecer na Copa.

Jogador-chave: Izaguirre. O lateral esquerdo é a principal válvula de escape do time no ataque, e sua combinação com Espinoza pelo lado funciona bem, com os dois trocando de posição e cobrindo as funções um do outro. Com velocidade e talento no pé esquerdo, seus cruzamentos para o esperto Bengtson são a maior fonte de perigo de Honduras com a bola rolando. Defensivamente, porém, precisa de ajuda de Espinoza e de Figueroa, que já jogou como lateral e sabe sair para cobrir o lado.

Palpite: cai na primeira fase

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França: meio-campo de 1º nível, renovação e jogo bonito

O fiasco da Copa de 2010 teve consequências profundas no futebol francês. Após a eliminação vexatória na primeira fase, que teve motim de jogadores contra o técnico e virou até assunto do governo, a reformulação na seleção foi profunda. Começou sob o comando de Laurent Blanc, passou para Didier Deschamps após a Euro 2012 e hoje tem os frutos bem maduros: um time jovem, talentoso e, talvez o mais importante, com um ambiente de mais união no vestiário.

Se o clima fora de campo parece ser harmonioso – o que justificaria a exclusão do meia Nasri da convocação final, por exemplo –, dentro do gramado a equipe também se acertou. Depois de alguns experimentos, que incluíram até um time com dois centroavantes, Deschamps consolidou um sistema 4-3-3 que tira o melhor do trio de excelentes meio-campistas que a França tem à disposição. A Copa de 2014 tem tudo para ser o ressurgimento da equipe como uma força a ser considerada no futebol mundial.

Meio-campistas de estilos diferentes ditam o ritmo

O melhor jogador francês pode ser o ponteiro Ribéry, mas o setor mais forte da seleção é o centro do campo. Os três jogadores são ótimos individualmente e cumprem funções que se complementam, com destaque para Yohan Cabaye. O armador atua na posição mais recuada do setor, um primeiro volante, mas circula por todo o gramado para buscar a bola, distribuir passes, fazer inversões de jogo e manter a fluidez da equipe, lembrando os tempos áureos de Xavi na seleção espanhola.

Mais à frente, Cabaye é “protegido” por dois jogadores de grande vigor físico: o prodígio Pogba, à direita, é praticamente completo, com técnica, força e visão de jogo; já Matuidi, à esquerda, é uma versão canhota de Ramires, com fôlego inesgotável para marcar e se juntar ao ataque. A relação entre os três se desenvolveu surpreendentemente rápido na seleção, e qualquer um pode ocupar temporariamente o espaço do outro, deixando o setor bastante fluido. Além disso, os três são aptos em avançar a marcação e pressionar a saída do adversário.

Setor ofensivo tem qualidade e variedade

O tridente de ataque francês também está entrosado e em grande fase. Valbuena, pela direita, é um dos jogadores mais importantes do time, com sua tendência a buscar o centro do campo e auxiliar na armação de jogadas; do outro lado, Ribéry é mais direto, preferindo arrancar com a bola dominada. Ambos os pontas tendem a cortar para o meio, abrindo os corredores para as ultrapassagens dos ofensivos laterais Debuchy e Evra.

Na função de centroavante, a França também está bem servida. Benzema é o titular, útil para o time com sua tendência de sair da área e tabelar, abrindo espaços para infiltrações dos enérgicos meio-campistas. Mas caso o inconstante atacante do Real Madrid tenha um de seus dias ruins, as alternativas são Giroud, excelente pivô e muito eficiente com jogadores correndo ao seu redor, e Rémy, opção de velocidade que pode fazer estrago contra defesas avançadas.

Defesa técnica e agressiva, mas propensa a erros

O estilo de marcar da França favorece seus jogadores de defesa, quase todos rápidos, cheios de fôlego e que jogam em uma linha adiantada, avançando quando os meio-campistas também sobem para pressionar. Os zagueiros são técnicos e saem jogando com calma, sempre buscando a aproximação de Cabaye para ditar o ritmo, porém o excesso de confiança pode causar erros fatais – atletas como Varane e Koscielny, por exemplo, às vezes abusam da técnica em locais perigosos.

Outro motivo de preocupação é Evra. O lateral esquerdo já não tem a velocidade de outros tempos, e uma linha defensiva adiantada pode causar problemas com ultrapassagens em suas costas. Em compensação, o goleiro Lloris se sente confortável jogando com uma defesa agressiva, e é especialista em jogar como “líbero”, saindo da área para afastar bolas em profundidade. Não há um ponto fraco claro no time francês, mas a defesa é o setor menos confiável.

Jogador-chave: Cabaye. Atletas como Ribéry e Benzema podem ser mais famosos ou individualmente mais talentosos, mas o volante do PSG é o canal por onde passam todas as jogadas. Buscando a bola dos zagueiros, distribuindo jogadas, dando passes incisivos ou aparecendo para finalizar, ele é o dínamo do meio-campo e pode trocar temporariamente de posição com Pogba ou Matuidi. Já afirmou que sempre entra em campo com o objetivo de tocar na bola pelo menos 100 vezes – quando mais ele conseguir, melhor para a França.

Palpite: quartas de final (perde da Alemanha)

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Equador: disciplina, velocidade e muito pouco além disso

Em uma Copa do Mundo em que os times sul-americanos apresentam ótimas seleções e gerações talentosas, o Equador é a exceção. O time treinado pelo colombiano Reinaldo Rueda não tem um elenco de grandes jogadores, e sofreu no ano passado um golpe terrível: a morte prematura do atacante Christian Benítez, artilheiro e principal criador da seleção. Se o talento não é abundante, o time aposta nos velhos aspectos da disciplina tática e do preparo físico para fazer seu jogo.

A perda de Benítez é irreparável, mas a velocidade é a principal arma usada pelo time equatoriano para suprir a queda de qualidade ofensiva. Na defesa, porém, a ausência de bons nomes é ainda maior, e é difícil enxergar um futuro além da primeira fase para o Equador na Copa do Mundo. É bem possível que seja a única seleção sul-americana a cair na fase de grupos.

Velocidade total pelas pontas e estilo de jogo direto

O ponto central do estilo equatoriano é a velocidade. O time é repleto de jogadores atléticos, com ótimo preparo e explosão física; o exemplo mais óbvio e famoso é o capitão Antonio Valencia, do Manchester United, um ponta direita com ótimo cruzamento que poderia ser velocista se não fosse jogador. Pela esquerda, quem atua é Montero, o único jogador que oferece mais variedade de movimentação com suas infiltrações em diagonal, para receber passes por trás da defesa.

Em um esquema 4-4-2 bem simples, o ataque é formado pelo centroavante Caicedo, bom no pivô e útil para segurar as bolas longas, e Enner Valencia, mais um atacante veloz, mas que não tem nem de longe a técnica e a visão que tinha Benítez para dar mais diversificação às ações ofensivas do time. Como resultado, defender em um bloco sólido e sair em contra-ataque é a tática principal. Os laterais também apoiam constantemente, e o time concentra praticamente todo o seu jogo pelos lados – os volantes Castillo e Noboa guardam mais a posição.

Variação com Valencia pelo meio não ajuda posse de bola

Rueda tentou alguns experimentos com Antonio Valencia em uma posição de meia central, distribuindo passes, buscando os lados e sendo uma válvula de escape mais direta no contragolpe. O modelo não deve ser usado como primeira opção na Copa, mas ainda é uma alternativa válida para o Equador, que não tem um parceiro confiável para Caicedo na frente. Com Valencia pelo meio, outro ponta veloz, provavelmente Ibarra, ganha a vaga na direita.

O detalhe é que a utilização do jogador mais talentoso do Equador pelo centro do campo não ajuda em nada a posse de bola do time, já que Valencia é um atleta de puro contra-ataque. O único jogador mais cadenciado da seleção é o volante Noboa, que tem bom passe e saída de bola – ao seu lado, Castillo é basicamente um marcador. O miolo do campo não deve ser fonte de criatividade para a seleção.

Defesa fraca precisa de muita proteção

O setor defensivo do Equador é bastante fraco individualmente. Jogadores como Guagua, Achilier, Erazo e Bagüí não inspiram confiança e são tecnicamente limitados, precisando de muita proteção do meio-campo; mesmo os mais talentosos, como Paredes e Ramírez, têm mais qualidades ofensivas que de marcação. Pelo menos o goleiro Domínguez é um ponto positivo, com excelentes reflexos e capacidade para pegar pênaltis.

Rueda sabe dessa deficiência, e encoraja os meio-campistas a formar uma linha sólida de marcação à frente da defesa para minimizar os espaços. Ainda assim, lançamentos longos, cruzamentos e enfiadas de bola são capazes de facilmente abrir a defesa equatoriana. A falta de qualidade individual pode ser compensada com um esforço coletivo bem treinado, mas a última linha está propensa a falhas básicas a qualquer momento.

Jogador-chave: Valencia. Em um time basicamente composto por velocistas, nada mais natural que o melhor e mais rápido deles seja o mais importante. Valencia é a principal válvula de escape do time pela direita, com arrancadas perigosas e qualidade no passe, principalmente em cruzamentos. Também pode ser escalado em uma posição central como alternativa tática, onde oferece mais proteção defensiva, apesar de este não ser seu jogo natural. É o capitão e o único nome de destaque do Equador em clubes de primeiro nível mundial.

Palpite: cai na primeira fase

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Suíça: esqueça o “ferrolho” e espere um excelente futebol

As atuações defensivas que arrancaram vitórias por um gol de diferença nas duas últimas Copas do Mundo devem despertar o uso frequente do termo “ferrolho” para descrever o estilo de jogo da seleção da Suíça. Mas o clichê nunca esteve tão errado. A equipe que chega como cabeça de chave à Copa do Mundo de 2014 tem o mesmo treinador, o alemão Ottmar Hitzfeld, mas o estilo de jogo mudou completamente nos últimos anos: calcado em uma geração jovem e talentosa, o time é ofensivo, agressivo na marcação e busca impor seu jogo, sem deixar de lado a disciplina tática.

De fato, o futebol da Suíça deve ser um dos mais agradáveis de ser ver no Mundial. Não há nenhum craque ou nome de primeiro nível do futebol mundial – os mais famosos são Shaqiri, do Bayern, Lichtsteiner, da Juventus, e Inler, do Napoli. Mas o conjunto formado por Hitzfeld é excelente, e as características dos jogadores se completam pelo campo, em um trabalho típico do técnico alemão. Também há pontos fracos, sendo que o mais óbvio está no comando do ataque.

Marcação segue disciplinada, mas agora é agressiva

Esqueça as duas linhas de quatro próximas à própria área, para fechar os espaços do rival e explorar um ou outro contra-ataque. A Suíça de 2014 é um time que marca principalmente por pressão, e conta com jogadores repletos de energia para isso: os pontas Shaqiri e Stocker percorrem os corredores pelos lados do campo com vigor e velocidade, no ataque e na defesa, e os volantes Behrami e Inler são móveis o suficiente para tirar a saída de bola dos meio-campistas adversários. Até o camisa 10, Xhaka, um armador canhoto e cerebral no estilo de Ganso, é altamente participativo sem a bola, fechando espaços e pressionando rivais sem descanso.

O estilo enérgico da marcação suíça não é tão frenético quanto o do Chile, por exemplo, mas é suficiente para desestabilizar muitos rivais – o próprio Brasil sofreu com esse aspecto, em uma derrota por 1 a 0 em amistoso logo após a Copa das Confederações. Apesar do estilo proativo, a Suíça também é perfeitamente capaz de recuar em linhas rígidas dependendo da situação do jogo, e o time tem potência no contra-ataque para ser ofensivo mesmo em uma postura mais recuada.

Variedade ofensiva esbarra na falta de finalizador confiável

A qualidade técnica da Suíça impressiona quem se acostumou ao time mais defensivo de outros anos. Os laterais Lichtsteiner e Rodríguez são ofensivos e calmos com a bola no pé, fazendo ultrapassagens constantes e permitindo que Shaqiri e Stocker cortem para o centro para tabelar com Xhaka; este, por sua vez, constantemente se desloca para os lados e dá opções de tabela, fugindo da marcação. Mas a grande virtude está na dupla de volantes: Inler é o cérebro do time, ditando o ritmo e capaz de lançamentos primorosos para as pontas, enquanto Behrami é o pulmão do meio-campo, avançando para se juntar ao ataque no estilo que Paulinho faz no Brasil.

A Suíça pode chegar à área adversária de várias maneiras: os laterais ultrapassam, os pontas cortam para dentro, o meia central se desloca e os volantes auxiliam no ataque. A única posição problemática é mesmo a de centroavante: Seferovic foi titular durante boa parte das Eliminatórias, mas vem de temporada ruim e não marca gols suficientes, servindo mais como pivô; a alternativa encontrada de última hora, Drmic, é promissora e tem faro de gol, mas ainda “crua”, uma incógnita na seleção.

Zagueiros causam mais preocupação que segurança

Em mais uma prova da reviravolta pela qual a Suíça passou nos últimos anos, os zagueiros podem ser vistos como pontos instáveis do time. O ótimo Von Bergen tem presença garantida com sua postura calma e técnica para sair jogando, mas seu parceiro de zaga não está firmado: pode ser o desastrado Djourou, o inconstante Senderos ou o jovem Schär, nenhum deles garantia de atuações confiáveis.

A Suíça defende de forma coletiva muito bem, com todos os jogadores dedicados em suas responsabilidades e fechando espaços de forma coordenada. Porém, a chance de erros individuais ainda é considerável, especialmente no miolo da zaga. Se o time recuar e chamar a pressão do adversário – ou seja, se reverter ao “estilo antigo” –, correrá mais riscos de ter essa fraqueza exposta. Por isso, a melhor opção para os suíços é jogar de forma corajosa e deixar de vez o “ferrolho” para trás.

Jogador-chave: Inler. Em um time com muitos jogadores técnicos do meio para frente, o volante do Napoli é a peça que faz o sistema funcionar. Buscando a bola dos zagueiros, fazendo lançamentos precisos para os pontas ou chutando de fora da área, o capitão é o coração do meio-campo e o ponto pelo qual quase todas as tramas ofensivas passam. Em um sistema coletivo forte com o suíço, Inler é certamente o jogador mais difícil de repor em caso de ausência por lesão ou suspensão.

Palpite: oitavas de final (perde da Argentina)

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Itália: Pirlo e Prandelli são as armas de um time comum

Os favoritos ao título da Copa de 2014 sempre são apontados como Brasil, Argentina, Espanha e Alemanha, mas o quinto posto desta lista costuma ficar com a Itália. A tetracampeã mundial sofreu uma grande reformulação nos últimos quatro anos depois do fiasco de 2010, e tem em Cesare Prandelli um treinador inteligente, que equilibra idealismo e pragmatismo na quantidade certa para extrair o melhor que a atual geração pode oferecer – o que, comparando com as principais seleções do mundo, não parece muita coisa.

O time ainda é baseado na armação magistral de Andrea Pirlo, liderado pelo bom e velho Buffon na defesa, e sempre espera um momento de mágica do inconstante Balotelli. No mais, um time regular, sem uma grande virtude ou uma falha evidente. Porém, o último título mundial da Itália também foi construído por três ou quatro craques e um time de operários – e a flexibilidade tática de Prandelli já mostrou na Euro 2012 que pode frustrar equipes mais talentosas.

Pirlo comanda um meio-campo de muitas opções

O meio-campo é o setor de mais destaque da Itália, muito por causa de Pirlo. O volante da Juventus ainda é o melhor do mundo na função de armar o jogo a partir de trás, buscando a bola dos zagueiros, oferecendo opções a todo momento e encontrando passes excepcionais nas costas da zaga adversária. Para compensar sua famosa falta de mobilidade na defesa, Prandelli sempre escala mais dois volantes ao seu lado: De Rossi e Montolivo são os preferidos, oferecendo bom posicionamento defensivo sem deixar de lado o ótimo passe.

O principal do meio-campo italiano é que os volantes são muito mais criativos que os meias, que devem ser Marchisio e Candreva, atuando abertos na defesa e com a missão de centralizar para apoiar Balotelli no ataque. Em uma situação cada vez mais frequente no futebol italiano, a ligação entre meio e ataque é feita não por jogadores criativos, mas por atletas enérgicos, que correm muito com e sem a bola. Na seleção italiana, o passe qualificado costuma vir mais de trás – as alternativas para a função de volante, como Verratti e Thiago Motta, também têm mais visão e técnica do que os meias.

Flexibilidade em um ataque dependente de Balotelli

Balotelli não é nenhum gênio, mas é o ponto central e de longe o melhor atacante da Itália – o que pode ser bom ou ruim, dependendo do humor e da disposição do centroavante no dia. Atuando muitas vezes sozinho na frente, ele é ótimo em receber lançamentos longos dos volantes, seja para superar a defesa rival na corrida ou segurar a bola de costas para o gol. No primeiro caso, ele costuma definir sozinho, mas para a segunda opção funcionar, Balotelli precisa de meio-campistas que se aproximem e façam ultrapassagens em direção à meta adversária.

É neste ponto que a Itália encontra mais dificuldades, às vezes deixando Balotelli isolado. O jogador mais apto a fazer isso é Marchisio, jogador que naturalmente vem de trás e entra na área para finalizar. A alternativa é um esquema 4-3-1-2, com três volantes mais Marchisio encostando em uma dupla de ataque. O desenho dá mais uma opção para se aproximar de Balotelli – a identidade deste segundo atacante é desconhecida, podendo ser Rossi, Insigne, Immobile ou até Cassano -, mas tira solidez defensiva, já que o time pede jogadores para defender os lados do campo.

Defesa a três pode ser opção defensiva ou ofensiva

Em mais uma alternativa tática de Prandelli, a Itália pode adotar um sistema de três zagueiros, com o trio Barzagli-Bonucci-Chiellini, da Juventus. A alteração muitas vezes tem caráter ofensivo: com Bonucci em campo, a equipe ganha mais uma opção para dar lançamentos precisos aos atacantes e laterais caso Pirlo esteja marcado. Além disso, os laterais italianos são mais talentosos ofensivamente do que na marcação, e o 3-5-2 naturalmente libera os alas ao ataque.

O time também é capaz de usar a formação para jogar de forma defensiva, como Prandelli mostrou diante da Espanha na primeira fase da Euro 2012 – os três zagueiros fecharam os espaços na área, e os alas ficaram constantemente livres para contra-ataques rápidos. Em uma equipe sem muitos talentos individuais decisivos, o uso inteligente dos recursos à disposição é a principal aposta da Itália para ir longe no Mundial.

Jogador-chave: Pirlo. Qualquer que seja o esquema utilizado por Prandelli, Pirlo está no centro dele. Sua habilidade para facilitar a saída de bola e sua precisão nos lançamentos longos, buscando as costas dos laterais rivais, ainda o coloca como um dos melhores armadores do mundo, e seu posicionamento recuado dificulta a marcação adversária. Para parar a Itália, o primeiro passo é designar um meia ou atacante para grudar em Pirlo durante o jogo todo – a falta de mobilidade é sua grande fraqueza. Deixá-lo livre, porém, é arriscar perder o jogo em um lance de genialidade.

Palpite: quartas de final (perde da Espanha)

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Inglaterra: time solto no “modo Liverpool”, mas sem eficácia

 

A Inglaterra da Copa de 2014 deve ser um time bem diferente da seleção que chegou como favorita e naufragou nas últimas duas edições. Fora de campo, a renovada equipe de Roy Hodgson não sofre nenhuma pressão para ser campeã, e dentro dele, conta com uma base titular do Liverpool que deve garantir um jogo fluido e técnico, bem diferente dos times “engessados” de Mundiais anteriores, quando a equipe tinha excelentes talentos individuais que eram incapazes de funcionar como um conjunto.

O estilo do Liverpool, porém, também leva suas fraquezas para a seleção, como a falta de proteção defensiva e a dificuldade contra defesas fechadas. Devemos ver uma seleção bem mais agradável e que produzirá momentos de ótimo futebol, mas ainda falta a eficiência pode custar caro em um grupo tão difícil, que tem Itália, Uruguai e Costa Rica. Com um time de jovens, a Inglaterra deve aproveitar a oportunidade para preparar uma geração promissora para futuras competições.

Base do Liverpool garante futebol de bola no chão

 

No esquema básico de 4-3-3 da Inglaterra, do meio para a frente, quatro dos seis titulares devem ser do Liverpool: Gerrard será o volante que arma o jogo de trás; Henderson, o pulmão do meio-campo, defendendo e entrando na área; Sterling, o ponta rápido, habilidoso e que sabe fazer gols; e Sturridge, revezando entre o lado do campo e o comando do ataque. As prováveis mudanças são Wilshere e Rooney nos lugares de Philippe Coutinho e Suárez.

Com uma base entrosada, a Inglaterra tem bom toque de bola e fluidez de movimentação. Gerrard dita o ritmo de trás e encontra ótimos lançamentos para os pontas ou os laterais, bastante ofensivos e ótimos cruzadores. Wilshere e Sterling são as fontes de criatividade no ataque, enquanto Rooney sai constantemente da área para ajudar na armação e abrir espaço para as infiltrações de Sturridge. Triangulações e enfiadas de bola devem ser mais comuns neste time inglês do que chuveirinhos ou chutões, mas isso não significa mais chances reais de gol, como veremos a seguir.

Rooney e Sturridge causam impasse no ataque

O principal problema no ataque inglês, ironicamente, é seu melhor jogador. Wayne Rooney ainda não se entendeu completamente com Sturridge, e não é eficaz como Suárez na hora de abrir espaços para o colega, deixando o jogo mais previsível. Complica ainda mais o fato de que Sturridge, na seleção, precisa cumprir obrigações defensivas pelo lado do campo, tirando-o de perto do gol adversário. No Liverpool, Brendan Rodgers passou a escalar um 4-4-2 em losango para manter Sturridge e Suárez juntos na frente; na Inglaterra, Hodgson não deve fazer o mesmo, o que significa que o perigoso atacante deve atuar bem mais longe da área para acomodar Rooney em sua posição central.

Tirar Rooney do time para escalar Sturridge onde rende mais é impensável, então a saída pode ser uma mudança de esquema para o 4-2-3-1, já testada por Hodgson sem resultados muito satisfatórios. Recuando Rooney e deixando Sturridge solto na frente, os dois estariam em suas posições preferidas, mas o time ficaria sem fluidez no meio, mais rígido em duas linhas de quatro e perdendo a familiaridade dos jogadores do Liverpool com o sistema. Existem opções que se encaixam bem neste modelo, porém, como os meias Milner e Lallana. Converter o jogo bonito em gols e eficácia, além de tirar o melhor de Rooney e Sturridge, é o grande desafio que Hodgson precisa superar.

 

Problemas defensivos também são herdados do Liverpool

As famigeradas “duas linhas de quatro” da Inglaterra nunca proporcionaram futebol agradável, mas a solidez defensiva sempre foi um ponto forte. Desta vez, o quadro deve se reverter. Assim como o Liverpool, a seleção tem problemas na marcação. O mais óbvio é a escalação de Gerrard como volante mais recuado – o capitão tem passe excelente e qualifica a saída de bola, mas tem defeitos tanto no combate, dando carrinhos sem necessidade, quanto no posicionamento: é comum vê-lo avançado demais, deixando espaço às suas costas ou dos lados, que um meia inteligente certamente aproveitará.

Outro problema defensivo diz respeito novamente à dupla Rooney/Sturridge. Nenhum dos dois tem característica de volta para marcar pelo lado do campo e ajudar o lateral, e a Inglaterra costuma ser vulnerável a situações de 2 contra 1 pelo flanco. A seleção tende a dar o combate na intermediária, formando uma linha de cinco jogadores no meio, mas nem sempre Rooney ou Sturridge assumem suas posições defensivas com eficiência. Para um técnico tachado como conservador e retranqueiro, Hodgson está arriscando bastante com essa escalação.

Jogador-chave: Gerrard. O meio-campista se reinventou nos últimos anos como um armador recuado e viveu umas das melhores temporadas da carreira no Liverpool. Seu posicionamento na seleção ajuda o time a sair jogando pelo chão, e sua visão para encontrar lançamentos longos para as pontas é crucial para a equipe superar marcações fechadas – problema do qual o Liverpool também sofre. Se nada mais der certo, é também nos pés de Gerrard que a velha arma inglesa, a bola parada, pode decidir.

Palpite: cai na primeira fase

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Costa Rica: diferente e defensiva para enfrentar gigantes

Se o Grupo D da Copa do Mundo é o “grupo da morte”, a Costa Rica será a fiel da balança. Itália, Uruguai e Inglaterra são seleções de tradição e forças equilibradas, e quem perder pontos para a pequena nação centro-americana ficará em posição bastante difícil para passar da primeira fase. O técnico Jorge Luis Pinto sabe disso, e tem montada uma equipe que deve apresentar dificuldades maiores que as esperadas no Mundial, graças a uma estrutura tática fora do usual, que proporciona um desafio diferente aos rivais.

A Costa Rica se classificou de forma tranquila na Concacaf, atrás apenas dos Estados Unidos, jogando um sistema que pode ser altamente defensivo ou bastante ousado com apenas algumas mexidas: o 5-4-1 se transforma rapidamente em 3-4-3. Na Copa do Mundo, porém, a tendência é que o time aposte na forma mais conservadora, defendendo no próprio campo e pronto para atacar no contragolpe. Taticamente, será uma das seleções mais interessantes do Mundial.

Defesa de cinco homens fecha espaços, mas tem fraqueza na direita

Ao contrário de muitos sistemas com três zagueiros em que os alas são jogadores bastante avançados, que atacam constantemente e ao mesmo tempo, o esquema da Costa Rica tem laterais mais típicos, formando uma linha de cinco homens na defesa. O time costuma se entrincheirar na própria área com uma outra linha de quatro meio-campistas protegendo a zaga, fechando vários espaços e dificultando a penetração do oponente – tática que foi usada com sucesso pela Coreia do Norte contra o Brasil na Copa de 2010.

O congestionamento defensivo, porém, apresenta fraquezas, principalmente do lado direito. O lateral Gamboa tem boa técnica e é bastante ofensivo, mas pode deixar espaço às suas costas quando avança para marcar – isso acontece porque o meia direita, o capitão Bryan Ruiz, nem sempre cumpre bem suas tarefas defensivas, muitas vezes estando fora de posição ou não voltando para marcar. Com Gamboa avançado, sobra espaço para uma enfiada de bola entre ele e o zagueiro Acosta. Do outro lado, o canhoto Díaz substituirá o lesionado Oviedo, do Everton – uma grande perda de força ofensiva para a Costa Rica.

Fluidez e velocidade no ataque, mesmo com poucos jogadores

O principal método de ataque da seleção é o contragolpe, e para isso o time conta com um trio ofensivo de qualidade surpreendente. Pela esquerda, Bolaños é um meia técnico, de toques precisos e ótimo cruzamento, mas o destaque fica pela dupla Ruiz e Campbell. O capitão Ruiz atua a partir da direita, mas constantemente cai para o meio e se infiltra na área para receber lançamentos; já Campbell é um atacante veloz, que cai para os lados e tem boa finalização de pé esquerdo. A troca de posições entre os dois faz com que o setor de frente fique fluido e perigoso, mesmo quando o time avança apenas com três jogadores.

A Costa Rica também tem opções razoáveis no banco de reservas para mudar seu estilo na partida. O “12º jogador” é o centroavante Saborío, homem de área mais típico, que gosta do jogo físico e da bola aérea – ele costuma entrar no segundo tempo no lugar de Bolaños ou Ruiz, deslocando Campbell para o lado do campo. O time perde fluidez, mas ganha a opção da ligação direta.

Posse de bola lenta e ineficaz

Quando a equipe tem a posse de bola, não é tão efetiva. Os laterais apoiam bem menos do que o normal para um sistema com três zagueiros, demorando para fazer ultrapassagens e providenciar opções de passe. O posicionamento do trio de ataque, com atletas distantes um do outro, também dificulta uma troca de passes mais paciente.

No meio-campo, o volante Tejeda faz o simples com a bola no pé, enquanto Celso Borges tenta passes mais incisivos. As combinações entre Borges e Ruiz pela direita são a melhor opção para a Costa Rica tentar reter a bola, mas o jogo do time não deve se concentrar nisso durante a Copa. Filho de Alexandre Guimarães, ex-jogador e técnico brasileiro que virou ídolo na Costa Rica, Borges tem qualidade no passe, mas seus avanços para se juntar ao ataque tendem a aumentar ainda mais o problema defensivo da seleção pela direita.

Jogador-chave: Campbell. Atacante de movimentação inteligente e muita velocidade, ele sai da área para tirar os marcadores de posição e abrir espaços para as infiltrações de Ruiz, na jogada mais característica da Costa Rica. Também chuta bem de fora da área e tem habilidade para chegar à linha de fundo dos dois lados, sendo escalado como ponta quando Saborío está em campo. Sua energia é essencial para a Costa Rica ter algum poder de fogo, já que o esquema do time se concentra na defesa e libera poucos jogadores para atacar ao mesmo tempo.

Palpite: cai na primeira fase

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Uruguai: dois astros, muitos sistemas e uma velha solução

Pensar na seleção uruguaia depois da temporada 2013/14 do futebol europeu é pensar imediatamente em dois nomes: Luis Suárez e Edinson Cavani. Depois de excelentes anos por Liverpool e PSG, os dois atacantes são os astros incontestáveis do time de Óscar Tabárez, enquanto o craque da Copa de 2010, Diego Forlán, já está em declínio na carreira e hoje joga no Japão. Porém, o curioso sobre esse Uruguai é que, apesar dos constantes ajustes táticos de Tabárez, Suárez e Cavani parecem incapazes de render seu melhor quando jogam juntos.

As principais conquistas do Uruguai em tempos recentes – o quarto lugar da Copa 2010, o título da Copa América 2011 – aconteceram quando Cavani foi para o banco, e Forlán formou parceria com Suárez na frente. Acomodar suas duas estrelas ofensivas é o principal dilema do astuto Tabárez para este Mundial, mas não é o único: em um grupo dificílimo com Itália, Inglaterra e a subestimada Costa Rica, o Uruguai tem que lidar também com um sistema defensivo que ainda não se encaixou.

Com dois ou três atacantes, Suárez e Cavani ainda não combinam

Ter dois atacantes tão talentosos e ser incapaz de fazer os dois jogarem bem em conjunto parece desculpa esfarrapada, mas está longe de ser um caso único no futebol – a Argentina, por exemplo, viveu situação semelhante com Tevez e Messi. O fato é que Cavani e Suárez não se completam: suas características são semelhantes e eles tendem a fazer o mesmo tipo de movimentação. Em lances isolados, a qualidade dos dois pode brilhar – o gol que decidiu a Copa América, por exemplo, teve participação da dupla. Mas é com o veterano Forlán que o time parece realmente funcionar.

Tabárez tem dois esquemas principais na seleção: um 4-4-2, com apenas dois atacantes, e um 4-3-1-2, com Forlán recuado, atrás de Suárez e Cavani. Este último é usado para acomodar os três atacantes, mas para o time não ficar vulnerável defensivamente, obriga que Cavani e Suárez voltem constantemente para marcar pelos lados, tirando potencial ofensivo da dupla. O melhor Uruguai contra times de primeiro nível tem uma linha de quatro meio-campistas que marca muito, Forlán na ligação e apenas um entre Suárez ou Cavani na frente – os dois gostam de espaço para se movimentar e receber a bola com liberdade, para depois partir com ela dominada. Este espaço diminui com uma dupla de ataque.

Defesa lenta e pressão desordenada

Apesar da tradicional garra e do espírito lutador, o Uruguai é um time que tem problemas defensivos evidentes. O time não é eficaz na marcação pressão – enquanto jogadores como Suárez, Cavani e Cristian Rodríguez são enérgicos e ajudam muito a atrapalhar a saída de bola rival, os volantes e zagueiros não acompanham a movimentação, criando buracos enormes no meio-campo. Já em fim de carreira, Lugano é terrivelmente lento, enquanto Godín se acostumou a defender dentro de sua própria área por longos períodos no Atlético de Madrid.

É por isso que o Uruguai vai melhor quando o time inteiro recua, se mantém compacto e espera para golpear no contra-ataque. Apesar da lentidão, Lugano ainda é um zagueiro firme dentro da área – com a marcação recuada, sua principal fraqueza não fica exposta. Com um meio-campo sem criatividade, a opção mais certeira é esperar o adversário e usar a velocidade dos pontas Rodríguez e Stuani quando roubar a bola para acionar o ataque.

Muitas variações táticas de acordo com o adversário

Tabárez é um treinador altamente reativo e pragmático – muda seu time sem constrangimento de acordo com o adversário. Contra times mais fáceis, se arrisca escalando o trio de atacantes; contra adversários fortes, joga com duas linhas de marcação; e contra equipes que usam uma dupla de ataque, sempre monta um esquema de três zagueiros para ter sobra na marcação. A vantagem é que o Uruguai pode variar facilmente para um 3-5-2, sem substituições: Cáceres, o lateral esquerdo, vira zagueiro, enquanto Maxi Pereira avança para ser o ala pela direita, e o meia canhoto (Rodríguez ou Álvaro Pereira) vira o ala esquerdo.

No centro do campo, não há tanta flexibilidade: sempre dois volantes de muita marcação são escalados, com Pérez e Arévalo como os preferidos, e Gargano, mais técnico, como opção. Na esquerda, Cristian Rodríguez ou Álvaro Pereira marcam e buscam a linha de fundo no ataque. Tabárez pode ter dilemas para montar o setor ofensivo, mas tem o elenco na mão e sabe o que fazer para apresentar dificuldades a qualquer adversário no Mundial.

Jogador-chave: Forlán. Os astros são Suárez e Cavani, e talvez Forlán nem seja titular, mas nos últimos anos, o Uruguai dependeu demais do camisa 10 para funcionar bem. Atacante que recua para armar o jogo por instinto e tem ótima finalização de fora da área, é ele quem combina melhor com qualquer uma das estrelas do ataque uruguaio. Quando o time joga com os três atacantes, também cabe a Forlán se manter centralizado e distribuir os lances de ataque. Se Tabárez não conseguir criar um entendimento natural entre Suárez e Cavani, terá que recorrer novamente ao seu atacante mais experiente para fazer a equipe render.

Palpite: oitavas de final (perde da Colômbia)

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